O Caminho a Santiago de Compostela continua. Falo hoje da experiência que fiz no ano passado, mas também dos frutos espirituais que ainda colho.
Experimentei a virtude da Generosidade antes mesmo de botar os pés na estrada para o quarto dia de jornada, Meu amigo padre e eu combinamos de rezar diariamente a missa, bem cedo, para amenizar o desgaste de caminhar sob o forte verão espanhol. No entanto, recebemos um pedido dos demais peregrinos e da hospitaleira: rezar a Missa com eles, só que uma hora e meia mais tarde. Claro que isso implicaria em ter de encarar uma caminhada com mais sol, com mais movimento, e mudar nosso planejamento. Mas é assim se cresce na virtude da generosidade: com pequenos sacrifícios, “perdendo” um pouco de si para oferecer ao próximo. E foi uma linda Missa. Me senti instrumento da Providência de Deus. Selaram-se assim amizades que duram além dos 33 dias de caminhada. Partimos assim, alimentado pela Palavra e pela Eucaristia para 27 km daquele dia, atravessando o Alto del Perdón, esticando 5 km a mais para visitar a ermida de Santa Maria de Eunate, e concluindo em Puente La Reina,
O dia seguinte iniciou com a travessia da linda ponte medieval que dá nome ao local. No século XI, uma rainha ordenou sua construção para ajudar os peregrinos de São Tiago Maior. Nessa etapa encontrei pessoas de idades, realidades e religiosidades diferentes, e mesmo assim, com algo em comum: éramos peregrinos. À medida que me aproximava da cidade-destino de Estella, foi crescendo minha a consciência da virtude da Fraternidade: nos tornávamos irmãos e irmãs, não de sangue, mas de Caminho. Era bonito sentir, ajudar e querer-se bem como irmãos.
A Etapa 6 até Los Arcos é marcada por um ponto popular entre os peregrinos: a famosa Fuente del Vino, próxima do Monastério de Irache. O bom hábito de fazer o bem sem esperar retorno, e de querer o bem do próximo, é conhecido como Virtude da Benevolência. Vale antes dizer que carreguei mais de 30 Terços para cada dia poder entregar para alguém no Caminho. Ao perceber que um peregrino estava com suas dores nos joelhos aumentando, escolhi ele para presentear. Conversamos e rezamos juntos, pedindo forças para continuarmos a peregrinação. Nos tornamos bons amigos, e no fim, fui surpreendido, pois ele me regalou com seu Terço pessoal.
Que ao longo das Estradas da Vida você possa exercitar as virtudes da generosidade, da fraternidade e da benevolência, e, também receber os presentes gerados por elas e pelos que as praticam.
Pe. Gabriel Zucki Bagatini
Reitor do Seminário Maior São João Batista